Católico, aos 13 anos ele frequentava o grupo de jovens e resolveu assistir uma aula de street dance. De chinelos, foi convidado pelo professor a participar do aquecimento. Topou e nunca mais parou.

 

Vini abandonou a capoeira para se dedicar às aulas de street na igreja. Logo foi chamado para um teste na academia Sigma. Em jogo estava uma bolsa de estudos, para que pudesse cursar as aulas  sem pagar mensalidade.

Aprovado na seletiva infantil, encantou tanto que logo foi chamado para uma peneira entre dançarinos adultos. Passou de novo. Só ele e uma garota foram aprovados entre 30 candidatos.

Nem tudo foi fácil. Vini é baixo e precisou se esforçar bastante para dançar entre os adultos da academia.

Hoje tem 1,60 metro. Na adolescência, era ainda menor, não chegava a um metro e meio.

“Apanhei bastante. Tive que me esforçar três vezes mais por causa do meu tamanho”, lembra.

No meio do caminho, enfrentou também o conhecido preconceito contra meninos que dançam.

Era chamado pelos amigos para jogar bola, recusava e ouvia: “Vai lá rebolar”.

Respondia com ironia: “Vocês estão rodeados de homens. Eu, de mulheres”.

Filho de pai padeiro e mãe caixa de padaria, precisava guardar cada centavo para ter o dinheiro do ônibus que o levava para a academia.

A família resistiu à opção, queria vê-lo de currículo na mão à procura de empregos convencionais.

Vini aguentou tudo. 

E valeu a pena. Hoje, aos 20 anos, faz parte da companhia de dança da Sigma, a Wazimu.

Dá aulas de street dance em escolas e academias e ganha o suficiente para sobreviver. Vive entre sacrifícios e glórias, no destino que escolheu para si mesmo.

 

Ele dança, dirige, ensina e edita músicas

Conhecido como Bila, Gabriel Woelke Santinho tinha apenas oito anos quando pediu para a mãe levá-lo a uma academia de dança.

 

O inspirador foi Michael Jackson, que ele sempre admirou por causa da música e dos passos.

A mãe não viu problemas e lá foi Bila, sapatilhas nos pés e roupa colada no corpo, fazer aulas de jazz.  

Mais crescido, o garoto começou a dançar em festas e boates, junto com amigos. Depois entrou no grupo de street dance do Colégio Fênix, mesmo sendo aluno de escola pública.

Em seguida, começou a frequentar a academia Sigma, onde está até hoje.

É professor, coreógrafo e dançarino. 

Quando aprendia dançar jazz, Bila só tinha meninas como companheiras de aula, o que é bem comum até hoje nas academias.

Os amigos não perdoavam. “Vai lá dançar, bailarina”, diziam.

Nunca ligou muito e acredita que hoje o preconceito já é menor. Ele mesmo não ouve mais as piadas bobas.

Bila é profissional requisitado. Costuma ser contratado para dar aulas de danças em grandes eventos em hotéis espalhados pelo país. Viaja com tudo pago, fica hospedado em bons lugares, passeia e ganha R$ 250 por hora/aula.

“Esse estatus faz o preconceito diminuir”, avalia.

É dele a ideia de transformar tangos em coreografias de dança de rua no espetáculo “Solo para Quatro”, apresentado por dançarinos da Sigma  no Teatro Municipal de Bauru e dirigido por ele mesmo.

Há 14 anos Bila faz pesquisas em músicas e danças. Usa a internet e ouve muito os  dançarinos mais velhos.

Ele mesmo edita as músicas que escolhe para suas coreografias modernas.

Parte do espetáculo, o solo “Penumbra”, estrelado por Vini, recebeu a nota mais alta no festival de dança de Barra Bonita.

Bila escolheu para o número um tango do filme de animação “Waking Life”, que  adaptou. 

 

Rotina é dura, mas retorno compensa

O trabalho árduo e o pouco tempo disponível para os divertimentos típicos de um jovem de 20 anos fazem parte dos sacrifícios da rotina de dançarino de Vini.

 

Ele sai de casa cedo, às vezes antes das 7h.  Só volta de madrugada, no fim do expediente.

Dorme um pouco e logo acorda para mais um dia de muita dança.

As glórias também fazem parte do dia-a-dia.

Vini já teve o talento reconhecido por artistas como Edson Guiu, dançarino e pesquisador de hip hop e house dance. Nos palcos, sob a iluminação especial e concentrado nos passos, às vezes nem percebe, mas costuma ser o mais aplaudido pela plateia.

O dançarino tem como ídolo um bauruense com quem teve aulas: Henrique Bianchini, dançarino de hip hop e hoje professor da Casa da Dança, em São Paulo.

Henrique é formado em educação física pela Unesp de Bauru e desenvolveu metodologias para o ensino de hip hop.

É também pesquisador de danças urbanas.

fONTE:Cristina Camargo Agência BOM DIA