Baseado em Fatos Reais
19 de setembro – Ilha Bella
25 de setembro – São Paulo – Galeria Olido
13 de setembro – workshop PUC às 16h
17 de setembro – workshop Galeria Olido às 18:30
corpografias
a propósito de baseado em fatos reais, espetáculo do dança contemporânea.
fernando rios
vejo uma letra corpo, um corpo letra. vejo um corpográfico, um graficorpo. vislumbro uma corpografia.
vejo um corpo que insiste em se mover, animal semovente, languidamente, enquanto sentido, enquanto busca de sentido, derramando sentido. cada letra corpo cria seu próprio alfabeto. e se transforma em fazer, viver, reivindicar seu tempo e espaço e se fazer presente, passado e projetar um futuro. a cada momento, o futuro se presentifica, passageiramente.
vejo uns corpos letras, corpos gráficos, que se exigem em presenças e se alfabetizam conjuntamente, historicamente, sincrônica e diacronicamente. tudo o que acontece com esses corpos gráficos nos remete para um alfabeto que se estrutura em dicionário corpográfico. letras, palavras em busca de bocas para serem pronunciadas. prontas para se transformarem m frases.
mas é no olhar olhando do espectador extasiado que elas se concretizam.
e as palavras se juntam e brotam frases no palco.
e cada corpo-letra se multiplica em corpo-letras em corpalavra e as frases se esparramam palco adentro e afora.
e atingem a platéia nas suas múltiplas exclamações e interrogações.
cada corpo letra, cada corpalavra, cada corpográfico, cada graficorpo desenha seu arco-íris semântico.
em gritante silêncio.
de repente, cada frase, acontecendo simultaneamente, nos remete a um poema, uma crônica, uma novela, um romance; a uma biografia, a um texto erudito transbordando história, filosofia, matemática, física, química, biologia.
as corpografias se consolidam, se esvanecem; nuvens, escritos no ar, lassidão; frases e frases escritas a mãos, pés, cabeças, troncos e membros.
e tudo alimenta, sobretudo, a muita poesia que sai de cada letra corpo, corpo letra, corpográfico, graficorpo.
corpografias para a alma.
e então, e então, e então, e então, o que se vê é uma imensa semente corpoletra, letracorpo, se transformando em comunicação.
essa poesia construída a olhos vistos desenha no espaço o intertexto integrupal que alimento o sentido.
ali, cada corpo vive, revive, transpira, transita e se transforma em poesia, letra por letra, frase por frase, parágrafo por parágrafo.
cada corpo texto se integra nos corpos textos.
e explodem em significados diante de cada olho e de cada olhar.
e faz-se a vida, e faz-se a poesia, e faz-se a dolorosa, emocionante, prazerosa, única, inteira maneira de enfrentar o tempo: transformam cada momento em eterno, em imortal.
há um texto construído no espaço, com gestos; há um texto impresso nas consciências.
há uma emoção que transborda em cada corpo.
há uma emoção que transborda em cada consciência.
há uns gestos fugidios que se estendem pela cidade e com os quais nos deparamos.
do palco para as ruas, a companhia dança contemporânea nos ensina a ver, a viver, a sentir cada corpo gesto, cada transeunte como transpresente, lado a lado.
e cada corpogesto, de cada sujeito no mundo, dali em diante, passa a ser uma corpografia, corpo diálogo.
são paulo, 20 de abril de 2010.